Com 30 anos de mudanças de planos, sucessos inesperados, brigas e amor, o Titãs tenta explicar como chegou até aqui

No início dos anos 80, não era incomum avistar três ou quatro titãs nas primeiras horas do dia, reunidos no balcão de alguma padaria paulistana, conversando, tomando a última ou forrando o estômago para enfrentar a potencial ressaca. Ao longo de 30 anos, a banda viveu do underground paulistano ao reconhecimento como uma das protagonistas do BRock, passando por episódios típicos da história de grandes artistas: sucessos inesperados, equívocos, brigas, perdas e ganhos. Alguns deles, motivos de fim de grandes bandas. De noneto a quarteto, o Titãs sobreviveu sem mudar sua essência. Ao contrário das padarias.
Em uma manhã atribulada de uma gigantesca padaria transformada em shopping center, Paulo Miklos aguarda por seu expresso enquanto lê esquetes que vai ensaiar à tarde para uma participação no Saturday Night Live brasileiro. Ele tira de letra. O atual segundo guitarrista dos Titãs é um sujeito afeito ao humor negro, que não perde a piada (mas tampouco perde o amigo). Ele brinca sobre a redução no contingente do grupo: “O projeto estava certo desde o princípio. A gente ia ficando mais leve com o tempo”.
A primeira baixa surgiu quando o Titãs estava prestes a ter um contrato assinado com a gravadora Warner para o disco de estreia, em 1984. “Quando pintou um compromisso, ele ficou meio arredio”, diz Miklos sobre a perda de ânimo de Ciro Pessoa. Membro original do grupo e parceiro na composição de dois grandes sucessos, “Sonífera Ilha” e “Homem Primata”, Ciro era figurinha carimbada na noite paulistana e decidiu não trocar os palcos escuros do Madame Satã e do Rose Bom Bom pelo frenesi dos programas de Chacrinha e Raul Gil, que logo viraram rotina nas atividades da banda. Oito contra um. Ele pulou fora. “A gente não sentiu tanto”, revela Miklos.
Sem deixar de lado a veia pop, a banda investiu em conceitos estéticos desde os primórdios. Muita gente conheceu o Titãs como os malucos de ternos coloridos, cabelos estranhos, revezando-se no vocal. “A gente foi associado a uma coisa que era o brega visto com um prisma da new wave”, o guitarrista Tony Bellotto explica. “Essa heterogeneidade sempre acompanhou a gente.” O cartão de visitas foi “Sonífera Ilha”, a música mais executada em 1984 – algo inesperado para os próprios Titãs. “Ela é esquisitinha”, Sérgio Britto diz. “Deu sorte que ficou bem resolvida.” Miklos vai além: “Um ska com uma coisa meio dodecafônica, com uma frase estranha, falando uma história para boi dormir. Não sei sobre o que fala a música até hoje”. Com o primeiro hit, o Titãs ganhou a confiança da gravadora para apostar nos três primeiros álbuns, mas a vendagem dos dois primeiros, Titãs (1984) e Televisão (1985), ficaria aquém das expectativas. Em 1985, enquanto a Blitz era o centro maior das atenções e o Ultraje a Rigor invadia todas as praias com um sucesso instantâneo, o Titãs enfrentava a primeira crise interna. E o fundo do poço foi no fim do ano, quando Arnaldo Antunes e Bellotto foram presos por posse de heroína.
Após várias experiências dolorosas, parece existir uma ideia subentendida e disseminada na banda: passado o perrengue, o Titãs sempre ressurge com mais força. E assim foi em 1986, quando o então octeto lançou sua obra-prima. Em Cabeça Dinossauro, o 19º maior disco nacional de todos os tempos segundo a Rolling Stone, o Titãs apostou as fichas que lhe restava. Virar o jogo era imperativo para a sobrevivência da banda. “A gente gravou a demo em dois dias”, Branco Mello conta, revelando a urgência de exorcizar a raiva, a angústia e a aura pop que os guiava até ali.
Fonte:RollingStone

No início dos anos 80, não era incomum avistar três ou quatro titãs nas primeiras horas do dia, reunidos no balcão de alguma padaria paulistana, conversando, tomando a última ou forrando o estômago para enfrentar a potencial ressaca. Ao longo de 30 anos, a banda viveu do underground paulistano ao reconhecimento como uma das protagonistas do BRock, passando por episódios típicos da história de grandes artistas: sucessos inesperados, equívocos, brigas, perdas e ganhos. Alguns deles, motivos de fim de grandes bandas. De noneto a quarteto, o Titãs sobreviveu sem mudar sua essência. Ao contrário das padarias.
Em uma manhã atribulada de uma gigantesca padaria transformada em shopping center, Paulo Miklos aguarda por seu expresso enquanto lê esquetes que vai ensaiar à tarde para uma participação no Saturday Night Live brasileiro. Ele tira de letra. O atual segundo guitarrista dos Titãs é um sujeito afeito ao humor negro, que não perde a piada (mas tampouco perde o amigo). Ele brinca sobre a redução no contingente do grupo: “O projeto estava certo desde o princípio. A gente ia ficando mais leve com o tempo”.
A primeira baixa surgiu quando o Titãs estava prestes a ter um contrato assinado com a gravadora Warner para o disco de estreia, em 1984. “Quando pintou um compromisso, ele ficou meio arredio”, diz Miklos sobre a perda de ânimo de Ciro Pessoa. Membro original do grupo e parceiro na composição de dois grandes sucessos, “Sonífera Ilha” e “Homem Primata”, Ciro era figurinha carimbada na noite paulistana e decidiu não trocar os palcos escuros do Madame Satã e do Rose Bom Bom pelo frenesi dos programas de Chacrinha e Raul Gil, que logo viraram rotina nas atividades da banda. Oito contra um. Ele pulou fora. “A gente não sentiu tanto”, revela Miklos.
Sem deixar de lado a veia pop, a banda investiu em conceitos estéticos desde os primórdios. Muita gente conheceu o Titãs como os malucos de ternos coloridos, cabelos estranhos, revezando-se no vocal. “A gente foi associado a uma coisa que era o brega visto com um prisma da new wave”, o guitarrista Tony Bellotto explica. “Essa heterogeneidade sempre acompanhou a gente.” O cartão de visitas foi “Sonífera Ilha”, a música mais executada em 1984 – algo inesperado para os próprios Titãs. “Ela é esquisitinha”, Sérgio Britto diz. “Deu sorte que ficou bem resolvida.” Miklos vai além: “Um ska com uma coisa meio dodecafônica, com uma frase estranha, falando uma história para boi dormir. Não sei sobre o que fala a música até hoje”. Com o primeiro hit, o Titãs ganhou a confiança da gravadora para apostar nos três primeiros álbuns, mas a vendagem dos dois primeiros, Titãs (1984) e Televisão (1985), ficaria aquém das expectativas. Em 1985, enquanto a Blitz era o centro maior das atenções e o Ultraje a Rigor invadia todas as praias com um sucesso instantâneo, o Titãs enfrentava a primeira crise interna. E o fundo do poço foi no fim do ano, quando Arnaldo Antunes e Bellotto foram presos por posse de heroína.
Após várias experiências dolorosas, parece existir uma ideia subentendida e disseminada na banda: passado o perrengue, o Titãs sempre ressurge com mais força. E assim foi em 1986, quando o então octeto lançou sua obra-prima. Em Cabeça Dinossauro, o 19º maior disco nacional de todos os tempos segundo a Rolling Stone, o Titãs apostou as fichas que lhe restava. Virar o jogo era imperativo para a sobrevivência da banda. “A gente gravou a demo em dois dias”, Branco Mello conta, revelando a urgência de exorcizar a raiva, a angústia e a aura pop que os guiava até ali.
Fonte:RollingStone
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