O sucesso que o Metallica fez desde o começo de sua carreira nunca foi
igualado por nenhuma outra banda de heavy metal. Depois de estabelecer
as regras do gênero que ficou conhecido como thrash metal (uma mistura
do rock feito por bandas inglesas como Iron Maiden, Judas Priest e
Mercyful Fate com a energia do punk) com quatro discos hoje considerados
clássicos absolutos, a banda provou que o heavy metal podia ser
rentável. Em 1991, lançaram Metallica, conhecido como Black Album, um
dos discos mais vendidos de todos os tempos. A mudança na sonoridade
trouxe muitos fãs novos, mas fez com que alguns, mais radicais, se
afastassem do grupo. O ponto mais baixo da carreira do Metallica veio
com a gravação do disco St. Anger. Brigas internas, integrantes sofrendo
de dependência química e falta de inspiração quase puseram um fim na
banda. Mas eles se reergueram e lançaram outros álbuns, incluindo o
polêmico Lulu, colaboração com Lou Reed, famoso por liderar o Velvet
Undergroud na década de 1960. O disco foi considerado um dos piores de
todos os tempos por críticos e fãs. Agora, eles preparam um novo
lançamento, produzido por Rick Rubin, lendário produtor de heavy metal e
hip-hop, e criaram um festival próprio, o Orion Music and More. Toda a
trajetória dessa banda é contada no livro Metallica - A biografia (Globo
livros, 472 páginas, R$ 49,90), escrito pelo jornalista Mick Wall.
Confira a entrevista com o autor.
ÉPOCA
- Para alguém que nunca ouviu uma música do Metallica, como você
descreveria a importância da banda para a história da música?
Mick
Wall - Um grande ponto de virada na história do heavy metal. O Metallica
mudou o jogo para cada banda de rock e metal séria que veio depois. De
maneira mais ampla, eles mostraram que era possível sair do "gueto" do
metal e fazer outros tipos de música. Eles provaram que o metal pode ser
sério, inteligente e desafiador - a ponto de custar fãs à banda em
alguns casos.
ÉPOCA - Na sua opinião, o Metallica ainda é relevante hoje?
Wall
- Claro. Apenas o disco com o Lou Reed já prova que eles ainda são a
banda de metal mais interessante, desafiadora e imaginativa do mundo.
ÉPOCA - Lulu recebeu críticas extremamente negativas da imprensa e dos fãs. Qual é sua opinião sobre o disco?
Wall
- É uma obra-prima. Não foi feito para fãs de heavy metal e não foi
entendido e tolerado por muitos deles. Mas para quem entende o trabalho
de Lou Reed, é uma obra de arte assombrosa. É algo que as pessoas ainda
estarão debatendo daqui a 25 anos - quando finalmente será reconhecido
como uma obra-prima.
ÉPOCA - O Metallica tem fãs bastante leais,
mas nos últimos tempos a banda sofreu críticas severas. Como eles lidam
com essas críticas?
Wall - Eles passam por cima delas com facilidade
mudando de novo e lançando discos que trazem de volta seus fãs mais
radicais. O próximo álbum que vão lançar será produzido por Rick Rubin,
responsável pela produção de Death Magnetic, e nesse verão (inverno no
Brasil) eles vão tocar o Black Album na íntegra em grandes festivais. O
Metallica é esperto demais para não saber como jogar para ganhar.
ÉPOCA - Você encontrou diversos músicos em sua carreira como jornalista. Por que decidiu escreveu sobre o Metallica?
Wall
- Porque a história era ótima. Eu quase escrevi um livro sobre eles em
1995, mas agora digo que fico feliz por ter decidido esperar. Eles
passaram por tantos altos e baixos, pessoais e profissionais, e
estiveram na encruzilhada da história do rock tantas vezes, que tudo
isso estava apenas esperando para ser escrito. Nenhuma biografia
literária séria sobre a banda havia sido escrita, então essa foi outra
razão. Esse não é um livro de fã, escrito para agradar a banda. Esse é
um livro escrito para pessoas que gostam de obras bem escritas sobre
vidas humanas complicadas. A música é quase secundária.
ÉPOCA - Qual foi a maior dificuldade que você encontrou enquanto escrevia o livro?
Wall
- Por conhecer os membros da banda pessoalmente por 25 anos, e por ter
tido a sorte de encontrar tantas pessoas que participaram da história do
Metallica que vieram falar francamente comigo, a maior dificuldade foi
pensar na história de maneira clara. Eu nunca quis regurgitar o que
outros livros e artigos haviam falado sobre o grupo, porque a maioria
dessas histórias são inverdades. Eu também não quis confiar apenas na
minha experiência, no que escrevi sobre eles ao longo dos anos. Quis
começar do zero, como se nunca tivesse escrito uma linha sobre eles
antes. Para encontrar uma verdade honesta e clara. Isso leva tempo -
muito tempo - mas valeu a pena no final.
ÉPOCA - Você escreveu um livro sobre o Led Zeppelin também. Você vê alguma relação entre as duas bandas?
Wall
- Suas histórias são parte de uma história maior sobre o rock dos
últimos 50 anos. Mas o Led Zeppelin escreveu o livro de regras e ajudou a
desenhar os mapas. O Metallica, especialmente por meio de Lars Ulrich,
conseguiu tirar vantagens dessas regras.
ÉPOCA - Você pode contar
algum segredo que você descobriu enquanto escrevia esse livro que te
você perceber que o esforço na pesquisa não foi em vão?
Wall - São
tantos que não tenho como entrar em detalhes. É suficiente dizer que o
livro é sobre eles e você realmente precisa ler o livro para entender o
que estou falando. Essas coisas não podem ser explicadas da maneira
certa em poucas linhas. Você nunca vai ler nada assim sobre o Metallica.
Fonte: Metal Remains
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Mick Wall: "O Metallica provou que o heavy metal pode ser sério e inteligente"
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